Atualizado em 20/11/2024 às 16:42:20
TRABALHOS TRAZEM DESCOBERTAS CONTRA INFECÇÕES EM AMBIENTES HOSPITALARES
Três acadêmicas do curso de Biomedicina da Urcamp representarão Bagé no Congresso Gaúcho de Análises Clínicas (19º Congrelab), de 19 a 23 de novembro, no Centro de Eventos da PUCRS, em Porto Alegre. Os trabalhos aprovados são frutos de pesquisas realizadas no Laboratório de Biologia Molecular do Hospital Universitário da Urcamp (HU), sob a orientação do professor doutor Rafael dos Reis.
As acadêmicas Nicole Hahn, Bárbara Seccon e Gabriela Leal, todas do oitavo módulo de Biomedicina, desenvolveram estudos focados em temas de relevância clínica e social, como o diagnóstico de tuberculose e a resistência bacteriana em microrganismos hospitalares.
Aprimorando o monitoramento da tuberculose
Nicole Hahn, 22 anos, apresentou o trabalho intitulado “Comparação do Xpert MTB/RIF Ultra e baciloscopia na monitorização da carga bacteriana em TB com cálculo N-CT”. Seu estudo comparou dois métodos utilizados no monitoramento de pacientes com tuberculose: a baciloscopia, técnica tradicional de análise de amostras de escarro, e o teste molecular Xpert MTB/RIF Ultra, conhecido por sua alta sensibilidade.
A pesquisa utilizou um cálculo denominado N-CT, baseado em um artigo publicado na revista Nature, para correlacionar a carga bacteriana avaliada pelos dois métodos. O estudo revelou que o cálculo N-CT oferece maior precisão, reduzindo limitações da baciloscopia, como sua dependência de uma análise manual sujeita a falhas. “Nosso trabalho demonstrou uma linearidade significativa entre os métodos, com uma acurácia de 80% ao utilizarmos o cálculo N-CT como ponto de corte para positividade”, explica Nicole. Esse avanço pode melhorar a precisão na detecção da resposta ao tratamento da tuberculose, contribuindo para ações mais eficazes no controle da doença.
O professor Rafael dos Reis destacou que o trabalho de Nicole também explorou a capacidade do teste molecular de identificar resistência à rifampicina, medicamento essencial no tratamento da tuberculose. Embora nenhum caso de resistência tenha sido identificado, o estudo reforça a importância de monitoramentos avançados, especialmente em populações vulneráveis, como indivíduos privados de liberdade.
Desvendando genes de resistência bacteriana
Gabriela Leal, 29 anos, focou sua pesquisa na detecção dos genes blaKPC e blaNDM, associados à resistência antimicrobiana em isolados de Pseudomonas e Acinetobacter baumannii. Esses microrganismos estão frequentemente relacionados a infecções em unidades de terapia intensiva (UTIs), onde o uso indiscriminado de antibióticos favorece o surgimento de cepas resistentes.
A pesquisa revelou que 92% dos isolados de Acinetobacter baumannii foram negativos para os genes analisados, sugerindo que outro gene, o Oxa, seja o principal responsável pela resistência. Este achado está alinhado com estudos realizados em Porto Alegre, que apontam alta prevalência de Oxa nessa bactéria.
Entretanto, a análise das Pseudomonas trouxe um dado inédito: a identificação do gene blaNDM, o primeiro caso registrado na região da Campanha. “Esse resultado reforça a importância de monitorar essas bactérias na prática clínica, pois a resistência antimicrobiana em UTIs pode levar a quadros infecciosos graves e de difícil controle”, ressalta Gabriela.
Pioneirismo na detecção de coexpressão gênica
O estudo de Bárbara Seccon, 22 anos, intitulado “Coexpressão de blaKPC e blaNDM em isolados de enterobacteriales: primeira descrição na região de Campanha”, analisou amostras de enterobactérias resistentes, coletadas de banco de bactérias de um laboratório de Bagé. Seu foco foi a identificação de cepas que apresentassem coexpressão dos genes blaKPC e blaNDM, fenômeno até então não descrito na região.
Das 32 amostras positivas para com múltipla resistência a antibióticos, quatro isolados apresentaram a coexpressão dos dois genes. Esse resultado, segundo Bárbara, destaca a necessidade de implementar uma vigilância genômica mais robusta. “Esse tipo de resistência é preocupante porque reduz drasticamente as opções terapêuticas disponíveis, especialmente em cenários hospitalares críticos”, explica.
A pesquisa também reforça a importância de iniciativas colaborativas entre hospitais e universidades para o controle da resistência bacteriana, abordando um problema global com soluções regionais.
Contribuições para a ciência e a saúde pública
Os trabalhos aprovados para o 19º Congrelab são exemplos de como a pesquisa acadêmica pode trazer benefícios diretos para a sociedade. “Gera contribuições ao implementar na cidade metodologias inovadoras, trazendo informações do nosso cenário epidemiológico de infecções por germes multirresistentes (aqueles com raras alternativas ou sem opções terapêuticas), e também introduz os acadêmicos na pesquisa científica”, avalia o professor. Para ele, as descobertas feitas no Laboratório de Biologia Molecular do HU, com apoio financeiro do laboratório Bioanálise, não só avançam o conhecimento científico, mas também fornecem dados importantes para o desenvolvimento de políticas de saúde, especialmente em regiões onde a resistência bacteriana e a tuberculose permanecem com desafios significativos. “Com isso acredito estarmos muito bem representados na Semana Mundial de Conscientização no Uso de Antimicrobianos, promovida pela OMS, com objetivo de aumentar o conhecimento sobre a resistência bacteriana.”, Conclui Reis.